Comprei o JN e levei o Acção Socialista…
por Fernando Moreira de Sá
O Jornal de Notícias é uma Instituição da cidade do Porto e do Norte. Em 2005 conseguia vender em banca mais de 120 mil exemplares e era o líder incontestado da imprensa diária em Portugal. Hoje, além de ter perdido a liderança dos diários (com estrondo) para o Correio da Manhã, com sorte lá consegue vender pouco mais de 70 mil exemplares.
O Jornal de Notícias, desde que está nas mãos de Joaquim Oliveira, deixou de ser um diário de referência. Aliás, o Jornal de Notícias sempre foi conhecido, até essa altura, por ser um diário próximo das populações, com uma forte componente noticiosa do que se passava na sociedade portuguesa e sem se meter muito na política. Aliás, todos sabiam que para estar a par do que se passava na política: o Público; para saber o que se passava no país real: o JN.
Eu sei que existem 300 milhões de razões para a capa de hoje do JN. Eu entendo que o director interino do JN tenha 300 milhões de razões para comentar como comentou no DN de hoje o debate de ontem. Eu entendo as razões suíças e a ordem de grandeza 300 milhões para o que se passou. Não sei se o título de hoje do JN e as linhas escritas pelo seu director interino no DN tenham sido escritas no DOP do meu querido amigo Rui Paula entre 300 milhões de chamadas telefónicas.
Quando o Emídio Rangel, em estado de choque, afirma na televisão que ficou surpreendido com a prestação de Passos Coelho; quando o insuspeito Miguel Sousa Tavares afirma, na televisão, que Passos Coelho esmagou Sócrates; quando todos os comentadores se dividiram entre o empate (os mais próximos de Sócrates) e a vitória de Passos Coelho (os mais próximos de PPC e os vários independentes), o director interino do JN, Manuel Tavares (ex-director do Jogo), escreve no DN que Sócrates ganhou e coloca um título absolutamente surpreendente, para não dizer abjecto e abaixo de cão*, no Jornal de Notícias:
Nem Paulo Baldaia, antigo assessor socialista e actual director da TSF, teve coragem para tanto! Até os Abrantes coraram de vergonha ao ver a capa do JN de hoje e lá para os seus botões pensaram: “não havia necessidade”.
O problema, grave, é que no JN existem profissionais de comunicação social dos melhores de Portugal. Homens e mulheres dedicados à sua profissão, que dão tudo pelo seu Jornal de Notícias e que não merecem este tipo de gestão “voz do dono” que continua, infelizmente, a pautar o quotidiano do Jornal de Notícias. Só eu sei o que muitos, mesmo muitos deles, se queixam do rumo que o JN tomou desde que passou para as mãos de Joaquim Oliveira, ele que percebe tanto de comunicação social como eu de plantação de batatas – pelo menos sei o que é uma batata, o que já não é mau.
A capa de hoje do JN foi mais papista que o Papa e ficará, provavelmente, para a fantástica história do Jornal de Notícias como o dia mais negro da sua história. Por dizer mal de Passos Coelho e tecer loas a Sócrates? Não! Por ser um frete do tamanho da Torre dos Clérigos. Por se ter transformado numa edição encapotada do Acção Socialista. Por ser um exemplo do que não é nem pode nunca ser o jornalismo: mera “voz do dono”.
O Jornal de Notícias, repito, é uma Instituição, assim com letra grande, da minha cidade e da minha Região. O que se espera dele é um mínimo de isenção e a devida independência. O que se espera dele é que seja um verdadeiro jornal ao serviço dos seus leitores e não, como é, ao serviço dos 300 milhões de interesses de quem, em má hora e não percebendo nada de comunicação social, o adquiriu pensando que estava a comprar um pedaço de publicidade estática num qualquer campo pelado do Portugal profundo.
Eu hoje tive vergonha. Pensava que o tempo das toupeiras tinha terminado…
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