"A revista Domingo - Correio da Manhã (14-Outubro) fez uma reportagem com Luisa Avelina Trindade, a "mulher que gritou no 5 de Outubro". Avelina Trindade, de 57 anos, natural
de Campo Maior, chegou a Lisboa há 30 anos, com o marido e os filhos.
Depois de vários trabalhos, ela e o marido arrendaram uma casa de
electrodomésticos por mais de 20 anos. "Oh, aquilo chegou a dar
muito dinheiro ... a nível económico vivíamos bem. Férias no Algarve em
tempo de praia, jantares fora, sem preocupações, uma casa grande em
Odivelas onde não faltava nada".
O aparecimento de grandes superfícies "complicou o negócio". Com a violência doméstica, saiu de casa sem malas. A vida complicou-se. . .
No dia 5 de Outubro foi até à Câmara pois "sabia
que as comemorações eram à porta fechada e imaginei que estivesse lá
alguma manifestação. Vi tudo tão sereno que, apesar de eles não estarem a
deixar entrar ninguém, resolvi espreitar, fui descontraída e ninguém me
travou."
Lá dentro, "ao vê-los engravatados a rirem uns com os outros, os
do PS com os do PSD e do CDS, sentados nos cadeirões, passei-me. Picam
as pessoas mas depois entre eles estão ali de panelinha, aos sorrisos".
Foi aí que o "coração saltou para a boca".
Avelina Trindade tem uma reforma de 227, 42 euros. "É
a pensão de sobrevivência. Fora isso, não tenho direito a mais nada,
porque descobri tarde demais que o meu marido não tinha feito os meus
descontos daqueles anos todos em que trabalhamos na casa de
electrodomésticos".
* * * * *
Duas notas - A situação actual de Avelina Trindade é "fruto" do não cumprimento, pelo marido, da entrega dos valores dos descontos.
A reacção que teve ao ver "os do PS com os do PSD e do CDS" reflecte, de uma certa forma, o modo como os noticiários apresentam o debate político.
Ambas as situações devem levar-nos a uma certa reflexão sobre o que se passou e passa na sociedade portuguesa, particularmente com a "guerra das televisões" motivada pelas audiências...."
[original publicado aqui]
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