02 junho 2009

O Padrinho

O PADRINHO

pinto e valentim-2.jpg

O PADRINHO

"Completaram-se recentemente 27 anos desde que Jorge Nuno Pinto da Costa chegou à presidência do F.C.Porto.
Se para alguns, na cegueira de vitórias conquistadas a qualquer preço, essa é uma data a comemorar, para quem estime a honestidade e a honradez, para quem aprecie a coragem e a seriedade dos homens, para quem preze o fair-play, para quem entenda as competições desportivas como um factor de alegria, de juventude, de civismo e de vida, para quem defenda a coesão de um país pequeno mas com uma longa história, aquele dia nada tem de festivo e simboliza um manto negro de imundície, de ódios mesquinhos, de provocações gratuitas, de provincianismo bacoco, de práticas subterrâneas, que condicionaram, manipularam e subverteram, mais do que os resultados, a própria forma de olhar o fenómeno desportivo em Portugal, e mesmo de entender o país.

Pinto da Costa elegeu, desde o primeiro dia, um objectivo muito claro: acabar com o Benfica. E nunca olhou a meios para o alcançar, fazendo tábua rasa das leis, dos regulamentos e de todos os princípios éticos que deveriam prevalecer no desporto. Seguindo, e depurando, a cartilha criada por José Maria Pedroto, Pinto da Costa utilizou a mais baixa demagogia para instrumentalizar e fanatizar uma população regional descontente com um certo centralismo político-administrativo, e, misturando de forma deliberada e leviana todos os conceitos, fez com que uma parte dela o seguisse no combate àquele que, abusiva e alarvemente, identificou como o rosto desse centralismo: o Benfica.

Dividiu o país, entrincheirou-o, erigiu guerras sem fundamento, lançou o ódio, a mentira e o cinismo para cima dos adeptos e do quotidiano desportivo. Será talvez a figura, de entre todas as áreas de actividade, que mais mal fez a Portugal e à sua coesão colectiva no último quarto de século, um mal de consequências que só o futuro poderá apurar, e que é estranhamente tolerado e branqueado por uma comunicação social imediatista, superficial e reverente para com o poder, por dirigentes desportivos e agentes diversos que fazem do servilismo um modo de vida, e até por uma classe política medíocre e bajuladora, capaz de o receber, ano após ano, a expensas dos nossos impostos, nos luxos da Assembleia da República.

Deve dizer-se, de forma bem clara, que o objectivo de vida de Pinto da Costa não foi atingido. Apesar dos títulos conseguidos pelo F.C.Porto – grande parte deles à custa das mais variadas formas de viciação, muitas delas para além das questões vindas a público no âmbito do processo Apito Dourado -, a verdade é que o clube nortenho nunca foi capaz de se afirmar como referência nacional, nem cativar a simpatia, ou mesmo o simples respeito, da esmagadora maioria dos adeptos portugueses, sobretudo fora das fronteiras da sua delimitada região. Pinto da Costa nunca conseguiu matar a alma benfiquista, nem retirar uma pevide à gigantesca massa adepta do clube encarnado, que semana a semana, em Portugal e no mundo, vibra com os jogos do Benfica.

Mesmo tendo, ao longo deste período, ganho mais vezes, o F.C.Porto nunca venceu por si próprio, mas sim, e sempre, contra alguma coisa. Contra o Benfica, contra Lisboa, contra o Sul, contra os fantasmas dos seus próprios complexos. Mesmo ganhando aos grandes nunca deixou de ser pequeno. Uma pequenez do tamanho do seu presidente, que transformou uma instituição outrora respeitável num antro de rancor e podridão.
O clube do povo continua a ser o Benfica, de Norte a Sul, do Minho ao Algarve, do Continente às Ilhas, e é por isso que o ódio de Pinto da Costa aos encarnados permanece tão vivo.

Ele sabe que não é calçando sapatos maiores que os pés que se torna grande. Ele sabe melhor que ninguém de que forma e com que métodos conseguiu as suas vitórias, e sabe que só assim grande parte delas se tornou possível. Por isso ele não se orgulha das vitórias portistas mas apenas satisfaz odientos e complexados instintos de vingança que, como sempre acontece na vida, se revelam insaciáveis e inconsequentes. Todo esse indisfarçado recalcamento nunca lhe saiu da alma e essa é a maior de todas as derrotas.


Apesar dos cordelinhos que mexeu, das influências que movimentou nos obscuros bastidores do futebol, e não só, Pinto da Costa nunca conseguiu impedir Benfica de ganhar. Desde 1982 (data em que assumiu a presidência), o Benfica conquistou, nos escalões seniores, 18 provas oficiais no Futebol, 18 de Hóquei em Patins, 29 de Basquetebol, 11 de Andebol, 8 de Voleibol, 11 de Futsal, 7 de Râguebi, 19 de Atletismo, 11 de Bilhar e 1 de Ciclismo, para além de muitas outras em modalidades menos divulgadas, escalões de formação ou sector feminino, cujo total nos levaria seguramente às largas centenas. E daqui em diante, com Pinto da Costa ou sem ele, a tendência é para este número crescer. Com Pinto da Costa ou sem ele, o Benfica continuará a ser o maior clube português.

Se alguém fez mal ao Benfica não foi o presidente do F.C.Porto. Pinto da Costa fez mal - muito mal - mas ao futebol, ao desporto e ao país. Fez mal ao Norte. Fez mal, sobretudo, à cidade do Porto, enxovalhando-a, servindo-se dela, e colando-a a práticas e métodos que estão longe de merecer aprovação de muitos portuenses, que já hoje (alguns deles), ou um dia mais tarde (os restantes), se sentirão com elas abusados e envergonhados.

Já passaram 27 lamentáveis anos de presidência de Pinto da Costa. Felizmente, não passarão outros tantos."

LF em "O Benfica"

Sem comentários: