14 outubro 2009

Prós e contras- mais uma

Depois de uma primeira parte cordial e organizada nas intervenções, o debate do "Prós e Contras", subordinado às relações entre jornalismo e política, animou-se, já depois da meia-noite, com a discussão sobre o "caso das escutas".

Henrique Monteiro, director do Expresso, trouxe para o debate a ideia de que o e-email com a informação de troca de mensagens entre jornalistas, motivo central da manchete do Diário de Notícias, teve proveniência política.

José Manuel Fernandes chegou a dizer que não tinha sido convidado para esse debate. O combinado teria sido "uma nota de rodapé", sublinhou, "e não três quartos" dedicado a esse tema. O director do Público, onde se publicou, em Agosto, a manchete relativa às suspeitas de vigilância de assessores do Presidência da República por parte do Governo, disse que também não sabia que o e-mail trocado entre os seus jornalistas tinha chegado a outras redacções através de um intermediário político.

João Marcelino, director do Diário de Notícias, esclareceu que não soube quem era a fonte. "Não perguntei ao jornalista quem era a fonte, confiei nele", afirmou. Henrique Monteiro foi insistindo na ideia:"Qual era o interesse da fonte?". A manchete do Diário de Notícias, que revelava que a informação para a notícia do Público teria partido de um assessor do Presidente, ainda em 2008,foi publicada em plena campanha para as eleições legislativas.

José Manuel Fernandes esclareceu que após o primeiro encontro entre o assessor do Presidente da República e um jornalista do Público, há 17 meses atrás, o assunto "morreu".Só muito mais tarde, em Agosto último, diante de uma outra notícia publicada por outro jornal, é que o Público voltou a investigar o caso, tendo, na altura ouvido várias fontes de Casa Civil, explicou.

Paulo Baldaia, responsável pela Informação da TSF, assinalou, por seu lado, que não chegou a fazer-se desmentido algum da peça do Público.E também defendeu que foi "importante o e-mail publicado pelo Diário Notícias".Sem esse material, o jornal, no dia seguinte, teria sido obrigado a explicar melhor a sua notícia, concluiu.

Muito antes da acesa discussão que levou o Provedor da RTP, Paquete de Oliveira, a intervir, dizendo que este debate "só veio baralhar os espectadores, porque ninguém quer admitir os erros em que caiu", o director do Diário de Notícias (DN) disse que não se "atreveria a publicar a notícia que estava apenas no espírito dos consultores", condenando assim a actuação do Público.No seu entender, a notícia, de Agosto, "não estava suficientemente sustentada".

Neste ponto, Henrique Monteiro concordou com João Marcelino: "É lícito publicar uma convicção sem sabermos se é apenas uma convicção".Já Paulo Baldaia, director da TSF, defendeu que a suspeita em si, por estarmos perante dois órgãos de soberania, justificava a matéria.

Na linha do que defendeu Henrique Monteiro, José Alberto de Carvalho, director de Informação da RTP, ainda disse que "questionava a oportunidade da notícia" do DN.

O "caso das escutas", remonta a 18 de Agosto, e veio interromper a "silly season" política. O Público contou, na altura, a história da suspeita de assessores de Cavaco Silva terem estado sob vigilância.Notícia essa que não chegou a ser desmentida e cujos efeitos se foram arrastado até à campanha política. Um mês depois, foi a vez do DN fazer manchete com a revelação de que um assessor de Cavaco Silva se tinha encontrado com jornalista do Público há 17 meses atrás para falar dessa suspeita, tendo recorrido à publicação de um e-mail privado trocado entre repórteres do Público.Esse assessor foi demitido do cargo. Depois das eleições, o Presidente da República pronunciou-se sobre o "caso das escutas".

- texto publicado no Jornal de Notícias



Vimos ontem em directo numa televisão paga por todos nós a prova da promiscuidade entre alguns meios de comunicação social e o governo.

Valeu, no meio daquilo, a postura e defesa de valores do director do Expresso, que deu uma lição de dignidade, deontologia e de cidadania.

No final, o provedor da RTP lamentava a forma como o debate tinha sido conduzido! Esclarecedor....

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