02 junho 2008

Não há pachorra!

A propósito dos tristes espectáculos que algumas "divas" proporcionam, vi isto no blog Peão, e subscrevo integralmente!


Peão
Não tenho paciência para Amy Winehouse, Britney Spears e afins

Eu não queria, mas não resisto. Hoje é domingo e, escrevendo, deveria escrever sobre vinhos (ando para escrever sobre o Languedoc, mas vai ter que ficar para a próxima). Tratando-se de Wine-House, abre-se uma excepção, e aqui vai disto. Claro que quem vai a um concerto de Amy Winehouse deve saber ao que vai, não tem desculpa. Eu não fui, e se vier cantar aqui por estas bandas vai ser sem mim. Um CD de estúdio chega perfeitamente. A moça até tem uma voz interessante, diria mesmo uma boa voz, e tem sobretudo um repertório muito bom. Gosto bastante das músicas que canta, mas isso, mérito a quem é devido, é graças ao talento de compositores, letristas, orquestradores, produtores e músicos. Desconheço se Amy se dedica a alguma destas actividades, mas duvido. Óbvio é que a moça tem talento (como diz, e bem, o Manolo) para a auto-destruição, e para isso é que já não tenho paciência. Que se vá auto-destruir para casa, em privado. Mas pelos vistos há quem goste do espectáculo. Pior ainda, há quem idolatre a auto-destruição, e provavelmente há até quem tenha também muita peninha, que coitadinha a mocinha até sofre muito, pobrezinha. Eu não tenho paciência, mas se outros têm, enfim, paciência... assim seja.

Agora, que venham comparar Amy Winehouse a Nina Simone, ou Billie Holliday, isso é que já é um ultraje. Nem é preciso comparar biografias (talvez Simone e Holliday tenham tido vidas muito mais duras, e verdadeiros dramas pessoais que possam justificar o sofrimento, mas nunca fizeram do sofrimento um espectáculo, mesmo que faça hoje parte da lenda, mas não vamos por aí). Atente-se à música: quando Amy Winehouse fizer metade do que fizeram Nina Simone ou Billie Holliday - i.e. quando gravar metade da discografia, com metade da qualidade, e que exerça metade da influência sobre as gerações de músicos futuras - então aceito a comparação, e podemos conversar. Enquanto esperamos, e vamos esperar muito, porque afinal a carreira de Amy Winehouse está apenas no começo (embora esteja provavelmente já no fim), fica uma faixa de Nina Simone ao vivo, para amostra. A música é boa, mas Nina Simone habituou-nos a melhor, a qualidade da gravação é sofrível, mas dá para ver o que era Nina Simone ao vivo. Oiçam, e julguem por vós.



Mas o pior, o que me tira do sério mesmo é chavões do tipo "Genialidade sem excesso? Não temos". Claro que quando se procura o excesso, e se idolatra o excesso, e se confunde excesso com génio, é normal pensar que não há génio sem excesso. Puro engano. Dou apenas o meu exemplo preferido: Charlie Parker e Dizzy Gillespie. O Jazz moderno tal como o conhecemos hoje é o resultado da revolução formal que foi o BeBop, e o BeBop foi 90% o resultado da parceria entre Gillespie e Parker. Parker é muito mais conhecido do que Gillespie (para os que não se lembram é o trompetista das bochechas enormes). Parker morreu novo, com excesso de álcool, excesso de drogas, batia na mulher, e mais uma série de excessos. Dir-se-ia que o excesso faz parte do génio. Mas que tem tudo isso a ver com música? Rigorosamente nada. E pouco importa que tenha sido Gillespie o teórico do BeBop, quem desenvolveu os novos formalismos, progressões de acordes, relações acorde-escala, e outras miudezas (essas sim, relacionadas com música). Gillespie não foi propriamente um homem de excessos, e teve uma carreira que durou uns cinquentas anos, coisa pouca afinal. Os excessos de Parker serão sempre o Ícone. Chama-se a isso confundir o essencial com o acessório.

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